O PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), a FIFA do desenvolvimento, dispõe das seguintes competições que avaliam e premeiam as «equipas» desta importante competição da humanidade:
Supertaça da Evolução: Fazem parte desta fase do «Mundial» as «equipas» que canalizaram, de forma brilhante, todos os seus recursos e potencialidades na valorização dos seus «adeptos» em todas as suas dimensões. Dominam a Supertaça as «selecções« da Noruega, Islândia, Suécia, Canadá, Suíça, Luxemburgo, Austrália, Dinamarca e Finlândia.
Liga dos Campeões: A maior parte das «equipas» desta milionária competição estavam completamente arruinadas depois da II Guerra Mundial. Mas, em poucas décadas, recuperaram de forma espectacular, tornado-se poderosas «selecções». Destacam-se nesta fase da «Copa» do Desenvolvimento, os EUA, o Japão, a Bélgica, França, Holanda, Alemanha, Itália, Inglaterra, Irlanda, Espanha, Áustria e Nova Zelândia.
Superliga do Desenvolvimento: As «equipas» desta fase do «Mundial» fizeram brilhantes esforços no sentido de promoverem o crescimento económico das suas comunidades e a valorização integral dos seus «adeptos». Mas, por várias razões, ainda persistem no seio dos seus «adeptos» pequenos focos de pobreza, desigualdade e exclusão social. Destacam-se nesta fase do «Mundial» as selecções de Israel, Portugal, Grécia, Singapura, Coreia do Sul, Chipre, Rep. Checa, Qatar e Emiratos Árabes Unidos.
Liga do Mau Crescimento: Muitas «equipas» desta fase do «Mundial» dispõem de vastos recursos humanos e naturais. Mas a gestão dos mesmos tem sido feita de forma desastrosa. E pior. Houve um gritante desajuste entre o crescimento económico e o desenvolvimento humano. Assim, enquanto multidões imensas de «adeptos» enfrentam privações de toda espécie, algumas «claques» vivem na opulência e na dissipação. Coexistem, assim, entre os «adeptos» das «equipas» desta competição, o luxo e a miséria. E as causas destas desigualdades podem ser de ordem política, económica, racial, cultural ou religiosa. Destacam-se nesta liga a Líbia, Rússia, Brasil, China, Venezuela, Tailândia, Turquia, África do Sul.
Liga dos Últimos: As «selecções» que competem nesta fase do «mundial» do Desenvolvimento fracassaram, por várias razões, na criação de condições que contribuam para o bem-estar físico e espiritual dos seus «torcedores». Por isso, a esmagadora maioria dos seus «adeptos», é incapaz de ter uma vida longa e saudável, de adquirir conhecimentos, de participar activamente na vida comunitária, de exercerem os seus direitos cívicos e políticos e de terem acesso aos recursos necessários para beneficiarem de um padrão de vida adequado. A nossa «selecção» faz parte desta competição, ocupando o 15º lugar entre as 32 «selecções» presentes nesta fase. O Madagáscar, a Suasilândia, os Camarões, O Lesoto e o Djibuti ocupam os cinco primeiros lugares da tabela classificativa.
Portanto, Angola, depois de ter sido uma das mais promissoras «selecções» deste planeta, apresenta-se hoje no vergonhoso grupo das «equipas» que incontestavelmente lideram os piores dados estatísticos do «Mundial» do Desenvolvimento. Quer isto dizer que estamos muito aquém do progresso económico e do desenvolvimento sustentável que tanto se fala. Estamos muito longe de ser a tal potência africana que tanto se propala. Porque nesta competição, a força e o poder de uma «selecção» não é determinado pelas riquezas existentes no mar, solo e subsolo. Não é mensurado pela cilindrada dos luxuosos carros que circulam nas suas principais cidades. Não é valorado pelo poderio bélico das suas forças armadas. Não é medido pelas caprichosas extravagâncias das suas elites.
Pior do que este triste cenário, é o facto de, ao longo destas décadas de raras «vitórias», alguns «empates» e muitas «goleadas», desenvolvermos o estranho hábito de atribuirmos exclusivamente às «equipas de arbitragem» a culpa pelo mau desempenho da nossa «selecção». E são muitos os «árbitros» que serviram de «bodes expiatórios»: «o colonialismo que cultivou o obscurantismo e a exploração do homem pelo homem»; «o imperialismo e seus lacaios»; «a cobiça de alguns países»; «os bandos de fantoches armados»; «a ingerência de alguns estados no assuntos internos de Angola»; «o regime comunista instaurado em Angola»; «a arrogância dos caudilhos»; «o regime totalitário de Luanda»; «o neocolonialismo russo-cubano»; «os profundos interesses das grandes potências mundiais», etc., etc.
A nossa selecção tem condições de fazer uma notável campanha no «Mundial» do Desenvolvimento. E não é utópico sonharmos brilhar na Liga dos Campeões ou conquistar a Supertaça da Evolução. Mas para materializarem este sonho e darem esta enorme alegria aos «adeptos» angolanos, os responsáveis da «federação», a «equipa técnica» e os «jogadores» terão de moldar uma grande «equipa» e por em marcha um gigantesco plano de trabalho que seja capaz de, em poucas décadas, tirar a nossa promissora «selecção» das humilhante Liga dos Últimos, superar a Liga do mau Crescimento e ocupar os lugares cimeiros da Superliga do Desenvolvimento.
E para conseguirmos realizar esta espectacular e honrosa subida, a realização pessoal e social dos «adeptos» angolanos terá de ser o fim único e absoluto da actuação de todos quantos integram os trabalhos da «selecção» de Angola. Porque, como bem disse João Paulo II, “a pessoa humana, na sua dimensão pessoal e comunitária, no que ela é e no seu desenvolvimento, deve ser o ponto de referência para a organização da sociedade e da economia, para a elaboração das leis, para o ordenamento das relações sociais, para a distribuição dos bens da comunidade nacional”. E dado que a dignificação dos «adeptos» deve ser o centro de todo e qualquer plano de crescimento económico e desenvolvimento sustentável, a nossa «selecção» dificilmente sairá da vergonhosa classificação enquanto os responsáveis pelo nosso destino colectivo continuarem a gerir, de forma desastrosa, os nossos abundantes recursos e persistirem em vedar à esmagadora maioria dos «adeptos» de Angola o legítimo acesso a todas as coisas de que necessitam para levarem uma vida verdadeiramente humana.
José Maria Huambo
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