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terça-feira, 24 de junho de 2008

A RENÚNCIA IMPOSSÍVEL




















“São muitos os homens que amam ideais nobres e elevados e se calam com receio de serem considerados «diferentes» ”.
MARTIN LUTHER KING

“Pecar por silêncio quando se deve protestar, faz dos homens cobardes”.
ABRAHAM LINCOLN

“Muito tempo guardei silêncio, permaneci calado e me contive. Mas agora grito, como a parturiente”.
ISAIAS 42, 14

“O Homem tem uma dignidade natural, inata, inviolável e deve lutar por ela, seja contra quem for”.
D. MANUEL VIEIRA PINTO



Com fundado e compreensível receio, algumas pessoas que me são queridas estão preocupadas com o conteúdo ousado de alguns dos meus artigos. Por isso, insistem em aconselhar-me a não me expor tanto, a guardar só para mim o que penso da dura realidade angolana, a zelar pela minha vidinha e a evitar meter-me nessas coisas porque «a política angolana é muito tenebrosa» e, apesar da guerra ter terminado e vivermos em tempo de Paz, «muita boa gente ainda acha que é dona País e que o seu propósito na terra é reinar para sempre e exterminar os incómodos». E com todo o zelo de quem nos quer bem, insistem em avisar-me: «Ainda vais só estragar a tua vida».

É claro que tenho medo e concordo, absolutamente, com os meus preocupados confidentes! Porque somos membros de uma sociedade intensamente militarizada, profundamente politizada e onde, durante longos anos, a força e a prepotência primaram sobre a razão e o Direito. Confesso que muitas vezes hesito bastante em partilhar convosco as minhas experiências e expor, publicamente, as minhas ideias. Isto porque, tenho plena consciência de fazer parte de uma geração que cresceu sob uma vergonhosa cultura de medo, terror e opressão das consciências.

Martin Luther King escreveu, no se livro Força Para Amar, que “uma das coisas que a maioria das pessoas mais teme é a de ser obrigada a tomar uma posição nitidamente contrária à opinião prevalecente. A tendência da maioria é a de adoptar uma maneira de ser tão ambígua que sirva para tudo, ou tão popular que sirva para todos”.

É muito difícil ser cidadão que exige os seus direitos e cumpre os seus deveres numa sociedade intolerante como a nossa, onde as «verdades» e os dogmas instituídos pelos «sábios e clarividentes» são as únicas expressões de liberdade e onde o consenso geral é obrigatório e institucionalizado. Por isso, seria mais fácil para mim viver esta minha efémera passagem por este mundo diluído no anonimato do imenso aglomerado amorfo de angolanos que os poderosos desprezam, descaradamente, e consideram indignos de uma valorização integral.

Não é fácil opinar, abertamente, sobre a amarga realidade do nosso problemático País, numa altura em que dissertar sobre as causas do nosso definhamento colectivo e evocar os males que têm emperrado um dos mais promissores países do mundo é considerado uma velha paranóia de alguns «reaccionários» hostis ao nosso «esforçado governo» e de algumas forças ocultas que teimam em não querer que Angola avance. Por isso, seria mais fácil desligar-me dos problemas dos outros e concentra-me só na organização da minha vidinha. Os outros que se lixem e se arranjem. Apenas eu e a minha família: o nosso futuro, os nossos estudos, a nossa saúde, a nossa estabilidade financeira, o nosso conforto económico e a nossa boa vida. Quero lá saber das condições de vida e do sofrimento dos amigos, dos colegas, dos vizinhos, dos conterrâneos e dos compatriotas.

Acreditem que já tentei várias vezes desligar-me de tudo e concentra-me só nos meus projectos, nos meus interesses e na minha felicidade. Mas não consigo! A minha educação cristã e a minha formação humanista não me permitem ficar indiferente perante a intensa e implacável destruição do angolano, perante o imerecido sofrimento dos meus compatriotas. E pior. Cheguei a conclusão de que o nosso sucesso e o nosso bem-estar só são plenos quando partilhados com aqueles que nos rodeiam. Isto porque a Angola que todos dizemos amar e desejamos ver desenvolvida não é um arquipélago de pessoas isoladas, indiferentes e a viverem apenas concentradas nos seus interesses privados e nas suas ambições pessoais. Angola que todos dizemos amar e desejamos ver desenvolvida é uma comunidade de pessoas que comungam das mesmas aspirações, das mesmas necessidades e dos mesmos problemas. E todos os filhos de Angola desejam e merecem usufruir daqueles bens que elevam a vida!

Portanto, só poderemos dar pleno sentido às nossas efémeras vidas, crescer como pessoas, ser bons patriotas e contribuir para o progresso do nosso País quando estivermos em comunhão com os interesses dos demais compatriotas e preocuparmo-nos, activamente, em saber da sua existência, dos seus problemas, das suas aspirações, das suas alegrias e dos seus sofrimentos. É isto que Mahatma Gandhi quis dizer quando sentenciou: “Não acredito que um indivíduo possa ganhar espiritualmente enquanto aqueles que o rodeiam sofrem”.

Assim, admiro aqueles que se conformam perante o desigual usufruto dos lucros das nossas riquezas. Perante a mediocridade dos nossos dirigentes. Perante os desmandos dos nossos políticos. Perante o mau desempenho dos governantes na gestão dos nossos recursos e na criação de condições que contribuam para o bem-estar físico e espiritual de todos os angolanos.
Mas eu não consigo conformar-me. E como cristão e cidadão consciente recuso-me, assim, a fazer parte do grupo de angolanos que acha que não tem nada a ver com a política e que, por estarmos em Paz, já não faz sentido criticar os nossos «esforçados governantes» e levantar questões que só fomentam as divisões políticas, étnicas e raciais.

Por isso, não me peçam para não me meter «nessas coisas da política» e para guardar só para mim o que penso da dura realidade angolana. Isto porque, ninguém pode amar, loucamente, Angola ficando alheio ao actual contexto do País e desligando-se dos problemas da Pátria.

Admiro aqueles que conseguem ficar indiferentes às indignas condições de vida e ao imerecido sofrimento dos familiares, dos amigos, dos colegas, dos vizinhos, dos conterrâneos e dos compatriotas.

Mas eu não consigo ficar indiferente! E como cristão e cidadão consciente recuso-me, assim, a fazer parte do grupo de angolanos que acha que não tem nada a ver com os problemas do povo só porque usufruem de um nível de vida que se pode considerar aceitável.

Por isso, não me peçam para ficar no meu cantinho e preocupar-me apenas em organizar a minha vidinha, vivendo somente concentrado nas minhas ambições e nos meus interesses pessoais. Isto porque ninguém pode orgulhar-se de ser um verdadeiro angolano vivendo entrincheirado nas fronteiras da sua «Angola privada», ignorando as condições de vida dos compatriotas e permanecendo indiferente à degradação das estruturas do País e ao imerecido sofrimento dos outros angolanos.


José Maria Huambo

11 comentários:

mafegos disse...

Companheiro,que nunca te doa os dedos,por teclares,brilhantemente.Nunca nos devemos calar perante as injustiças,que dia após dia,vamos assistindo,se bem que impotentes.
Como sabes Angola esta-me no coração e è para onde eu quero voltar e vejo com muita apreensão o que se vai passando na nossa terra e o pior é que quem desgoverna aquela terra,julga-se dono daquelas riquezas e não consegue intuir ou não querem que não passam de uns oportunistas e que têm por desideratode se perpetuarem "ad eternum" no poleiro.Mas o que se passa no Zimbabwe não me deixa indiferente e é um exemplo do que pode acontecer em Angola.No entanto,eu que vivo em Portugal,também me sinto roubado,por esta corja que nos governa.
Um abraço conterraneo.

Anónimo disse...

O que você tem vindo a escrever tenho seguido, leio sempre que o tempo me permite, td bem cada um tem as sua ideia, ou seja cada arvore cresce mediante a floresta onde foi plantada. As nossas ideias ou pensamentos são completamente opostos. Eu sou claramente do MPLA e discordo de muitas coisas que você escreve sobre o meu partido. Só devo pedir-lhe que não cai em debates baixos mantenha o NIVEL alto como tem sido até aqui.Li com muita atenção o que escreveu sobre o MPLA DE JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS e fico feliz pela campanha que tem vindo a fazer sobre o meu partido, escritos como o seu nos levarão a uma vitória esmagadora no próximo pleito eleitoral. Sabe porque? porque você se esqueceu de dizer que ninguem se mutila por prazer, ninguem que gose de boa saude se da um tiro no proprio pé, ninguem se da uma chapada. para haver luta tem que haver duas partes. E o seu mal e de todos que com consigo comungam da mesma opinião pensam que o vosso partido é que é o bom o melhor que nada fez foi ensultado e defendeu-se pura e simplesmente. Nós no MPLA não temos medo de assumir os nossos erros, não temos medo de dizer a verdade ao povo por isso o povo sabe e bem quem o seu. Vou lhe dar um Exemplo as nossas forças por engano no tempo da guerra bombardearam uma aldeia no WACO e nós não esquecemos de pedir perdão aquelas populações. mais vocês mataram indescriminadamente elementos da população de cambatela isso por duas vezes, mais ninguem teve a coragem de ir até aquele povo pedir desculpas. vocês raptaram e mataram crianças portuguesas e até ao momento não assumem. o Dia que vocês assumirem seja la o que for vão ser governo logo a seguir, enquanto não o fizerem o povo vai vos penalizar tenho dito.

Anónimo disse...

Analisar a situação actual

Concordo totalmente com esse texto na medida em que faz jus à nossa realidade mental psicologica e emoncional.

Nos clicos mais proximos da presidencia e do Mpla o que corre é o seguinte:

O Mpla sabe que é melhor nao ganhar em Setembro. Mas o Mpla nao sabia em que confiar para nao ser perseguido pelo povo pelos seus erros dramaticos.

Tal como em 1992, os marketeiros estão a fazer que situação é muito dificil para o MPla pois o povo nao lhe gosta.

Jes e o Mpla percebeu que tem aceitar a mudança democratica como forma de salvaguardarem-se-

Então esta provado que chegaram ao partido que esta pronto a dirigir a nação e salvar o povo de tanto sofrimento é a Frente para a Democracia ou FpD.

Ao mesmo tempo e ja em tempos de democracia, o texto esta actual e positivo. O Mpla enquanto partido politico faz o seu trabalho e dentro da politica ele sabe que existe rotatividade e que essa mudança nao significa que o Mpla va sofrer com ela.

O Mpla já sabe que o clima não está bom para ele permanecer a governar. Já criaram suas empresas mas o povo está farto deles. Esta na hora de se retirarem.

Mesmo Joao Melo,Nandó, Roberto Leal Ngongo, João Lourenço, Bornito de Sousa, Virgílio Ferreira Fontes Pereira falam já numa postura de democracia. O proprio Presidente Jose Eduardo Dos Santos fala e já defende um ambiente mais democratico e todos sabem que a mudança está a vir e que isso nao precisa de lhes meter medo pois existem partidos de qualidade que elevarão Angola nos próximos 4 anos , como a FpD - Frente para a Democracia, que é um partido bem gerido e com quadros capazes e ideias bem estruturadas e que agraçam junto do povo grande amor e o povo que já não gosta do Mpla de momento.

Então, resistir à mudança e criar complicações nas eleições o proprio Mpla sabe que nao é bom pois vai só complicar a vida do país pois o povo está agastado.

Então sim, democracia chegou e com ela a FpD irá governar por 4 anos já a partir de Setembro. A abertura chegou com a FpD - Frente para a Democracia.

Kashuna Andre "gifted" disse...

o meu voto solidario
Kashuna Andre "Gifted"

Anónimo disse...

Pessoas como tu têm que existir e me orgulho muito pelo facto de te conhecer e saber que aquilo que eu não tenho coragem de dizer, tu o dizes com todas as letras. Dizer tb que é lamentável quando algumas pessoas acham que quem discorda do gorverno do Mpla, tem necessariamente que ser de outro partido. Mais lamentável ainda é o facto de que nós angolanos ainda votamos numa pessoa e não num PROGRAMA ou nas COMPETÊNCIAS que alguém demonstra nos seus actos. Precisamos de ter consciência de que não é preciso ser-se de um partido para falarmos daquilo que não nos agrada num outro. O que eu acho é simplesmente que, agente deve falar daquilo que vive, vê, ouve, sente e sofre... seja de quem for, venha de onde vier... tal como tu o fizeste. Obrigada.

Anónimo disse...

Amigo.

Achei o seu artigo interessante e muito mais ainda o comentário do amigo Cassulo, de quem aliás gostaria conhecer o nome real, para lhe dizer que os homens tal como as nações, existem antes e acrescento mesmo, acima dos partidos políticos e é roçar a insanidade pensar que todo o que discorda é do contra e no caso, se não é do MPLA, tem que necessariamente ser da UNITA. Já existia Angola antes destes e de outros partidos e ela continuará a existir depois de nós passarmos. Se o M vai ganhar as eleições, até os próprios membros duvidam, mas mesmo que assim seja, a excepção de Deus, nada é eterno e fariam bem os do MPLA em começarem a aceitar as críticas e observações que lhes são feitas e aos seus métodos de governação, porque caso contrário, a queda será estrondosa e talvez seja o fim.

Anónimo disse...

Grande texto! Graças a Deus existe alternativa para governar em Angola, é a FpD. A Frente para a Democracia está mesmo em força. Rezo a Deus para que em Setembro Nosso Senhor Jesus Cristo nos dê a benção de um partido como a FpD a governar! Viva o povo, viva a FpD! Tenho fé e esperança! Amen!

Anónimo disse...

Impressiona-me a capacidade deste jovem. Esta reflexão foi para além do imaginário. Os que teimam em aceitar a nova realidade, conotando todos que discordam com a sua linha de pensamento, com forças opostas, evidenciam quão parados no tempo estão. Conhecendo os malabarismos dos nossos detractores, sugiro tomar as devidas precauções, sem abrir mão no que acredita. Os grandes nomes medem-se pela nobreza das suas ideias, você não é um homem vulgar, Angola e os Angolanos de boa-fé precisam de homens como você.

Anónimo disse...

que tal? gostei bastante dos conteudos do seu blogue
controla o

uigecentrico.blogspot.com

o link para o seu blogue ja anda là.
agradeceira se pudesse meter tambem o meu link na sua lista...
passarei mais vezes

bom trabalho e força ai

Anónimo disse...

Fantástico
É o que se pode dizer perante,estas brilhantes palavras. É o que muios de nós gostaríamos de dizer, mas não o fazemos por medo, muitas das vezes. Não dê ouvidos a estes leitores de má língua,coitados, não conhecem outra coisa se não o lamentavel governo que o nosso país tem, julgam ser o melhor, não os ligues.
Continua com esta escrita que é óptima. Obrigada por existires e obrigada pelos teus excelentes artigos
Um bem haja

Anónimo disse...

Reconhecimento a quem merece isso sim, obrigada por me ter dado a oportunidade de ler algo que também me diz respeito, algo que sinto mais nunca tive coragem de dizer, e acima de tudo faço votos que esssa coragem demostrada nunca mais nunca a percas, pois que se existissem mais pessoas como tu acho que estariamos bem melhor.