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sábado, 11 de agosto de 2007

UNITA: Uma Oposição «Fantoche»!

Quando se está atento ao actual cenário da política angolana, torna-se difícil entender o enorme entusiasmo criado em torno da candidatura de Abel Chivukuvuku. Argumentou-se frequentemente que «com o Dr. Abel o partido do Galo Negro teria uma nova dinâmica, a oposição seria mais credível e ele era a pessoa ideal para enfrentar Eduardo dos Santos nas próximas eleições».

Atendendo à conjuntura dominante, rapidamente se desvenda que a UNITA não tem ambiente, nem condições, nem argumentos para confrontar, politicamente, o núcleo duro do MPLA e opor-se, democraticamente, ao cada vez mais poderoso grupo de José Eduardo dos Santos. Não é, por isso, sensato esperar-se dos «maninhos» uma forte e séria oposição ao poderoso sistema reinante. Isto porque, quatro décadas depois da sua fundação, facilmente constatamos que a UNITA nunca foi um organização tão «fantoche» como nos tempos que correm.

Respeito a indignação e a revolta daqueles que acham ser uma grande afronta reciclar e reutilizar nesta fase, dita de Paz e Reconciliação, um dos vocábulos mais polémicos e mais marcantes dos tenebrosos anos de guerra. Mas, por mais que doa a muitos, a minha geração precisa de questionar, repensar e debater tudo aquilo que nos foi ensinado durante os quase 30 anos de conflito.

Porque é que o termo fantoche se tornou, entre nós, sinónimo de UNITA? Um fantoche é uma espécie de boneco animado e manipulado internamente por uma pessoa. Os «Marretas» e os bonecos da Rua Sésamo são os fantoches mais famosos do mundo. O termo fantoche é usado pejorativamente para designar pessoas ou grupos de pessoas sem autonomia e sem vontade própria que são manipuladas por outros indivíduos ou grupos de pessoas.

Durante longos e dolorosos anos, a poderosa máquina de propaganda e desinformação ao serviço do núcleo duro do MPLA incutiu, ampla e insistentemente, nos nossos espíritos a ideia de que a UNITA não era um legítimo movimento de nacionalistas angolanos. Ela era uma criação dos colonialistas portugueses e não passava de uma organização «fantoche» à mercê dos interesses e dos caprichos do imperialismo e da racista África do Sul.

Apesar da longa fama, tem-se constatado que só nos últimos 5 anos é que a UNITA tem sido uma organização «fantoche». Porque desde a sua fundação, só agora se vê confrontada pela contingência da sua sobrevivência política depender das constantes manipulações e da permanente sujeição aos caprichos e desmandos do grupo dominante.

E insisto em dizer que a UNITA não tem ambiente, nem condições e nem argumentos para confrontar, politicamente, o partido dominante e opor-se, democraticamente, ao sistema reinante, porque ela foi durante longos anos intensamente «diabolizada» pelos veículos de propaganda e contra-informação do núcleo duro do MPLA (TPA, Rádio Nacional, Jornal de Angola e órgãos afins). E a máscara da Paz e Reconciliação tem sido absolutamente incapaz de ocultar tudo aquilo que nos foi ensinado e passamos a acreditar: «A UNITA é a grande responsável por todas as desgraças de Angola». Assim, nas disputas políticas e nos debates democráticos, os dirigentes do Galo Negro confrontam-se com uma especializada estrutura de propaganda e desinformação, montada para perpetuar a «diabolização» da UNITA e desacreditar as suas intenções democráticas. É por isso que nem as sessões do seu X Congresso nem os debates dos candidatos à presidência do partido mereceram a devida atenção dos órgãos de informação de um Estado que afirma ser democrático e de direito.

A UNITA saiu derrotada do longo e doloroso conflito pela supremacia político-militar. O núcleo duro do MPLA que hoje domina por completo a sociedade angolana sempre guiou-se pelo seu famoso lema: «os nossos opositores não têm alternativa. Quer queiram quer não, estão condenados a ser governados por nós». Iluminados por este propósito, o grupo dominante arquitectou uma estrutura política e sócio-económico treinada para manipular e «domesticar» o Partido do Galo Negro. Como acontece com todos os vencidos que jazem nas arenas políticas de Angola, os dirigentes da UNITA têm sido forçados a submeter-se às regras impostas pelos vencedores e, por força desta dura realidade, ficaram sem ambiente, sem condições e sem argumentos para confrontá-los politica e democraticamente. Todos vimos a intrigante submissão dos «maninhos» nas grandes questões da nova Constituição, na calendarização das eleições, na polémica da Agenda Nacional de Consenso, na «maka» dos deputados, na escolha dos seus ministros do GURN, etc., etc.

A UNITA, com a sua famigerada guerrilha, muito contribuiu para a actual atmosfera de desgovernação e estagnação do País. E, por força dos acordos de Paz, é, agora, parte integrante do mesmo governo que sempre combateu. Por isso, não tem ambiente, nem condições, nem argumentos para confrontar, politicamente, a danosa e desastrosa gestão governativa do núcleo duro do MPLA e opor-se, democraticamente, ao vergonhoso clima de corrupção e incompetência que reina entre nós. Aliás, na gíria corrente, o GURN significa: «os Grandes Uniram-se para Roubar a Nação». E, a não ser que retire os seus membros do governo, nem a UNITA parlamentar e co-governante, nem a equipa de Samakuva, nem Chivukuvuku e seus partidários conseguirão, nos próximos tempos, contrariar este cenário ambíguo.

No quotidiano jogo pela realização pessoal e sobrevivência sócio-política, os dirigentes do Galo Negro esbarram, constantemente, contra uma super-estrutura partidária que se confunde com o Estado e que controla os acessos aos bens materiais necessários à sua estabilidade familiar e económica. Por isso, a UNITA parlamentar e co-governante, o deputado Chivukuvuku e a equipa de Samakuva não têm tido outra alternativa se não aceitar que seja o mesmo «regime» que sempre combateram que tenha, agora, de atribuir-lhes as casas, os carros, os ordenados, os subsídios e outras importantes regalias. E neste ambiente de completa dependência económico-financeira, qualquer crítica ou tomada de posição dos altos dirigentes da UNITA dirigidas ao partido no poder ou ao Presidente da República é tida como um reprovável acto de ingratidão. Isto porque, no seio do núcleo duro do MPLA e entre os seus fervorosos adeptos circula a tese segundo a qual os altos dirigentes do Galo Negro estão em grande dívida para com os «camaradas». Porque foi o MPLA quem salvou a UNITA de um fim inglório, transformando-a num partido político. E se hoje os seus principais dirigentes continuam a fazer política, aparecendo bem nutridos e bem vestidos é tudo devido ao forte sentido de Estado e à incomparável magnanimidade do Camarada Presidente José Eduardo dos Santos.

José Maria Huambo

1 comentário:

fuidani disse...

o artigo valeu, continuem assim!
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