Esses burlões ao serviço dos obscuros interesses do MPLA e da UNITA só podem ter perdido a vergonha e a memória! Como é que, depois de tudo o que fizeram, ainda têm a coragem de irem ao Huambo fazerem passeatas e apresentarem-se como os salvadores da Província, os mais idóneos para sarar as feridas que ainda sangram, os maiores pacifistas de Angola e os grandes impulsionadores do desenvolvimento e da reconstrução desta martirizada província?
Nem a UNITA nem o MPLA estão a altura das novas exigências desta importante e estratégica região. Entre 1975-2002, eles conseguiram fazer com que o Huambo passasse de uma das mais importantes províncias de Angola, para uma das mais devastadas. De uma das mais prósperas regiões do país, para um dos piores lugares para um ser humano sobreviver. De uma das terras mais pacíficas, para a mais politizada e militarizada. A grande e bela cidade que esteve para ser a capital da então colónia foi literalmente riscada do mapa e deixou de figurar na lista das principais cidades do país. Por isso, nenhum deles tem idoneidade moral para falar de paz, desenvolvimento e reconciliação. Todos eles fazem parte de um doloroso passado que deve estar sempre bem presente na definição do futuro da Província do Huambo.
O que podem trazer de novo para o povo do Huambo esses abutres políticos que sobrevivem sob a bandeira do MPLA e que fizeram da guerra um negócio lucrativo e prosperaram à custa da fome, do sofrimento, do sangue e da morte dos seus compatriotas? Para o poderoso regime de Luanda, os filhos do Huambo nunca passaram de meros instrumentos de conquista e conservação do poder e marionetas de estimação ao serviço dos seus obscuros interesses.
O que podem trazer de novo para o povo do Huambo esses abutres políticos que sobrevivem sob a bandeira do Galo Negro e que fizeram carreira à custa da fome, do sofrimento, do sangue e da morte dos seus compatriotas? É que, apesar de a sua base de apoio político-militar estar, tradicionalmente, implantada entre os ovimbundos, a UNITA foi o movimento de libertação que mais duramente fustigou, dizimou, mutilou, atormentou e depauperou os filhos do Huambo. Esses impunes criminosos que sempre se acharam donos e senhores do Huambo dedicaram parte da sua famigerada ferocidade a degradarem a região do planalto e a destruírem a cidade. Agora, nem querem saber desta obra-prima da sua aventura belicista. Todos fogem do profundo abismo que criaram para o povo do Huambo. Nenhum deles quer viver na cidade que, insensatamente, destruíram e debandaram todos para Luanda.
Não! O destino dos sobreviventes das hecatombes do Huambo não pode continuar nas mãos destes abutres políticos que durante 27 anos atormentaram e infernizaram as suas vidas. Para os fanáticos sequazes do MPLA e da UNITA, a força ideológica que professam sempre esteve acima da dignidade dos Angolanos e a supremacia político-militar que violentamente pretendiam impor era-lhes mais preciosa do que as vidas dos seus irmãos. Eles enganaram os compatriotas com mentiras e utopias e desencaminharam os filhos do Huambo com vãs esperanças. Por causa deles a impiedade e a intolerância estenderam-se por todo o Planalto Central como uma terrível praga.
Assim, o Huambo tornou-se num vergonhoso palco de disputas ferozes e sangrentas pela supremacia político-militar. “A terra era do mais forte; aquele que se fazia temer é que nela se estabelecia” (Job 22, 8). Por isso, a nossa Província foi invadida por uma forte multidão de fanáticos que eram intensamente cruéis e desprovidos de piedade. Chegaram, destruíram a nossa região, arrasaram as nossas aldeias, as nossas vilas, a nossa cidade e os seus habitantes foram exterminados como moscas. Na sua fúria desenfreada, os belicistas do MPLA e da UNITA converteram uma imensa terra de delícias e paradisíacos lugares em áridos e desolados desertos. Não havia paz para nenhum ser vivente. Ninguém passava pelas estradas e os caminhos ficaram desertos. Diante da sua força avassaladora tremiam os cidadãos indefesos, todos os rostos empalideciam e por toda a parte havia desolação e ruína, fome e doenças.
Como sofreram os filhos do Huambo, como sofreram! A maldita guerra devastou as suas vidas, lançou-os na desolação e tornou penosa a sua passagem por este mundo. Em vez de viverem condignamente a sua fugaz peregrinação terrena, passaram a existir somente para contemplar amargos sofrimentos e imensas misérias. Por causa da insensatez dos obcecados abutres, a terra do Huambo embriagou-se de sangue e por toda a parte ouviam-se as lamentações dos que choravam, silenciosamente, os seus mortos dilacerados pelas balas e devorados pela fome. Do profundo abismo erguiam-se os gritos dos inúmeros moribundos e a alma dos feridos clamava por socorro. Mas toda a esperança de salvação lhes era arrebatada e não encontravam nenhum auxílio. Por isso, grandes e pequenos pereceram de horrores da guerra, de fome e de moléstias mortais. Sem pranto nem sepultura, jazeram como esterco sobre a face da terra. Não tiveram enterro decente, nem foram chorados com dignidade e os seus cadáveres serviram de pastos às aves do céu e aos animais da terra (Jeremias 16, 4-6).
Os que foram poupados pela morte naufragavam num imenso vale de lágrimas. O medo e o terror apoderavam-se diariamente deles, sacudindo todos os seus ossos. Acorrentados, oprimidos nos laços da miséria, jaziam na indigência sem consolação e os males que lhes roíam não descansavam. Reduzidos a nada pela miséria e pela fome, roeram intragáveis raízes como quem comia saborosos manjares e colhiam ervas e cascas debaixo dos bosques, levando-as como preciosos alimentos. A extrema fome que se fazia sentir transformou cães e gatos em nutritivos alimentos e alguns, em profundo desespero, chegaram a comer carne humana e restos das placentas e das membranas expulsas após os partos. Em lugar de pão tinham contínuos suspiros e os seus gemidos derramavam-se como água. Não tinham paz nem sossego e os seus infindáveis tormentos roubava-lhes o descanso. Seus olhos não viam senão amarguras, eram consumidos pela tristeza e os seus rostos estavam entumecidos de tanto chorarem. “Se pudessem pesar as suas aflições e angústias, se pudessem pôr numa balança os seus infortúnios e sofrimentos, de certeza que pesariam mais dos que as montanhas” (Job 6, 2-3) e bem podem exclamar como o Profeta Isaías: “Se o Senhor dos Exércitos não nos tivesse conservado um resto, teríamos sido como Sodoma, seríamos agora como Gomorra” (Isaías 1, 9).
Aproveito esta soberana ocasião para prestar a minha magna e rendida homenagem aos heróis que ousaram permanecer no Huambo e que nunca abandonaram a nossa terra. Admiro-vos porque apesar terem sentido na pele até onde pode ir a crueldade humana, apesar destes dolorosos anos de penosa atravessia no deserto, grandes tormentos, terríveis perseguições, inumanas privações e imensas dificuldades, não perderam o humanismo, preservaram a dignidade, cultivaram a fraternidade, acreditaram na força do amor, guardaram a fé e mantiveram a esperança e a férrea vontade de viver.
José Maria Huambo
4 comentários:
Ciao amico Huambo!
Este artigo esta Bem feito, mas com uma particularidade: sò se chora pelo Huambo, creio que como cidade e como provincia. Vamos acreditar que a guerra devastou todo o espaço social e nao sò do territorio que se chama Angola. Em alguns lugares com mais intencidade outros com menos. E nao vamos nos esquecer que outros sò tiveram as consequencias da guerra feroz, mas nao deixam de estar devastados - como o caso do Namibe por exemplo -. Vamos acreditar n'Angola dos valores, vamos procurar vencer os nacionalismos primitivos, e procurar fazer o devido esforço de impostarmos a nossa faculdade, o nosso ser no sentido de Naçao unida (dentro com um acervo de naçoes), o sentido de Patria, sentido de Paiz, sentido de Republica d'Angola, abraçando a ideia chave da angolanidade, se bem que, alguns nao gostam e nao abraçam este conceito, mas o problema nao esta no gostar, esta no ser e na sua essencia. Portanto nao vamos nos debruçar monoliticamente no Povo do Huambo, mas sim de Angola: de Cabinda (é Angola) ao Kunene (é Angola), emfim, Angola vista em todos os seus prismas...Ninguem é mais ou menos Angolano, por nascer ou pertencer fora do Huambo, ou mesmo dentro do Huambo, os tais que que perigam a Paz do Huambo tambem sao Povo, melhor dizer a Paz d'Angola...!
Conrdo consigo amigo. Ja é chegada a hora de os dirigentes angolanos colocarem as mãos a consciencia e começarem a colocar o País em ordem, porque a culpa é deles e apenas deles.
Todos os Angolanos sofreram!!! Mas eu entendo a sua particular preocupacao pelo Huambo, mas tambem o Bie'. O Planalto Central sofreu na alma e na carne mais do que ninguem. Vamos todos RECONSTRUIR Angola, essa Angola rural base de todo o bem estar do Povo e nao so as Luandas dessa nossa terra bela.
Viva a PAZ!!
Vou fazer um link, temos aqui um blog de qualidade.
É extremamente encorajador haver jovens a discernirem sobre essas matérias. Entende-se a dor e os traumas deixados pela guerra. Porém, creio que as coisas não deviam ser vistas deste anglo. Como bem diz, quer a UNITA como o MPLA são parte do problema do desiderato que vivemos. Não se pode resolver um problema excluindo os causadores e actores principais. Seria um grande erro ou jamais o problema seria resolvido. Isto se quiser analisar os factos com realismo. Por muito que os odiemos ou adoremos, estes dois movimentos ou partidos são incontornáveis no que respeite a história recente e ao futuro de Angola.
Entendo que a chave de um futuro melhor para os angolanos está na consolidação da emergente democracia, dando primazia ao fortalecimento das instituições democráticas, isto só é possível com partidos políticos fortes e uma sociedade civil estruturada e coesa, para uma efectiva fiscalização e responsabilização dos actores políticos. Assim sendo, nem a UNITA nem o MPLA ou mesmo a FNLA, não vão nunca, nem podem deixar o Huambo ou outra região de Angola em paz. Na verdade o Huambo e o Bié sofreram maior devastação que qualquer outra província. Porém, genericamente, todas províncias, se calhar, exceptuando as do litoral, foram seriamente desarticuladas. Chacina houve-as em todo lado.
A guerra é geralmente consequência de mau ajuizamento, ambição dos homens, posicionamento estratégico, etc. Em Angola foi a combinação de todas as variantes, escusa os detalhes. Entretanto, penso que o importante é não esquecermos o nosso passado, para que os erros não se repitam, o futuro, este sim deveria tirar-nos sono. Plenamente de acordo que seria desejável que a bipolarização fosse gradualmente reduzida, mas até lá este futuro será com o MPLA e UNITA.
Eis aqui o meu “blog” http://samcandundo.blogspot.com/
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