BlogBlogs.Com.Br

sábado, 30 de agosto de 2008

Dou o Meu Voto à FpD!

Antes de descrever as razões que me levam a escolher a FpD (Frente para a Democracia), precisamos de ter em conta alguns aspectos importantes. É que nesta campanha eleitoral muitos partidos estão a fazer grandes promessas como se fossem formar governo em caso de vitória eleitoral. A grande verdade que todos precisam de ter bem presente é esta:

No dia 5 de Setembro os angolanos não irão às urnas para escolher um novo Governo. Se a UNITA ganhar as eleições não vai formar governo. Porquê? Porque a cultura política e a tradição constitucional vigentes desde 1975 impuseram, entre nós, o sistema presidencialista. Por isso, em Angola, o Presidente do Partido que ganha as eleições legislativas não forma governo. Quem assume o governo do País é o vencedor das eleições presidenciais. Como as eleições presidenciais só serão em 2009, até lá, o governo do País continuará sob a responsabilidade do Presidente da República em exercício desde 1979. Assim, mesmo que o MPLA perca as eleições legislativas, os futunguistas irão continuar a governar o País. Porquê? Porque José Eduardo dos Santos, o seu candidato natural, continua a ser o Chefe do Governo. Quer isto dizer que se os principais partidos da oposição (UNITA, FNLA, FpD, etc.) quiserem governar o País terão de apostar em candidatos que consigam derrotar Eduardo dos Santos nas eleições presidenciais.

Os angolanos irão as urnas para definirem uma nova composição dos 223 lugares da Assembleia Nacional. Qual é, então, a importância destas eleições legislativas? Estas eleições são importantes porque o Parlamento é o centro da Democracia. A Assembleia Nacional é a assembleia representativa de todos os angolanos e exprime a vontade soberana do povo angolano. Na Angola tradicional era nos «jangos» que os membros das comunidades se reuniam e debatiam com os «sobas» os seus problemas e tomavam as decisões susceptíveis de influenciarem as suas vidas.

A Assembleia Nacional é o «Jango» de todos os angolanos. É no «Jango» que os governantes e os cidadãos devem reunir-se para debater os problemas do País. É no «Jango» que os governantes devem informar aos cidadãos sobre as decisões que tomam na promoção da dignidade do angolano e na defesa dos interesses da Pátria. É no «Jango» que os governantes devem dar a conhecer aos cidadãos como é que estão a governar o País, a gerir o dinheiro público, etc. E tudo o que os governantes fizerem sem consultar os cidadãos reunidos no «Jango» é contra a Lei e contra a Democracia. Porquê? Porque não exprime a vontade soberana e o interesse legítimo dos angolanos.

Diz a nossa Constituição que a Assembleia Nacional é a assembleia representativa de todos os angolanos. O que significa «assembleia representativa»? A representatividade política resulta dos seguintes factos: Nas comunidades tradicionais, os «jangos» tinham espaço suficiente para acolherem todos os membros com capacidade de intervirem nos assuntos em discussão. Acontece que nem todos os angolanos têm maturidade para debaterem e procurarem soluções para os problemas de Angola. E os milhões de angolanos com capacidade de intervirem nos assuntos do País não podem todos mudar-se para Luanda nem cabem no edifício da Assembleia Nacional.

Portanto, nem todos são capazes de debater os problemas do País e não é possível os milhões de angolanos ocuparem os 223 lugares do «Jango». É por isso que dia 5 de Setembro vamos escolher os Deputados à Assembleia Nacional. A palavra deputado vem do verbo deputar que quer dizer delegar, encarregar alguém de uma missão. Assim, vamos escolher aqueles que julgamos capazes de ocupar o nosso lugar no «Jango» e de nos substituir no exercício da nossa soberania. Vamos eleger aqueles que vão intervir em nosso nome nos debates das decisões que moldam as nossas vidas e nas discussões dos problemas do País.

Nestas eleições o nosso voto representará a resposta que cada um de nós dará às propostas dos partidos e à credibilidade dos dirigentes que fazem as promessas eleitorais. Assim, são 3 as principais formas de expressão da nossa escolha: o voto leal, o voto de censura e o voto estratégico.

Com o voto leal os eleitores limitam-se a escolher os representantes do seu partido preferido. Pouco lhes importa se os seus escolhidos são bons ou maus dirigentes políticos. Se são políticos competentes ou incompetentes. Se são honestos ou corruptos. Os eleitores escolhem-nos, simplesmente, por serem os candidatos do seu partido do coração.

Com o voto de censura os eleitores não voltam a escolher os seus candidatos do anterior mandato. Ou porque não gostam das suas novas propostas políticas ou porque durante o mandato que terminou não souberam representar condignamente os interesses dos seus eleitores.

Com o voto estratégico os eleitores sentem-se forçados a votar não nos candidatos dos seus partidos de preferência mas noutros candidatos com os quais se sentem identificados ou noutros candidatos com capacidade de derrotarem os candidatos dos partidos que não gostam. O voto estratégico é muito frequente nas segundas voltas das eleições presidenciais.

Depois de vermos estes aspectos importantes que gravitam em torno das eleições legislativas, estou pronto para justificar o porquê do meu voto ir para a FpD. O meu voto na FpD é, ao mesmo tempo, um voto de censura, de lealdade e estratégico.

1- O meu voto na FpD é um voto de censura ao MPLA e à UNITA. Porque? Porque, para mim, ambas as organizações são as grandes responsáveis pela vergonhosa degradação do angolano e pela imerecida estagnação do nosso promissor Pais e ambos os partidos traíram a confiança dos angolanos e representam um doloroso passado que deve estar sempre bem presente na definição do grande futuro que desejamos construir.

O MPLA é, de longe, a mais marcante e a mais poderosa organização política de Angola. Mas, infelizmente, sobrevive absolutamente refém dos obscuros interesses dos futunguistas. É por causa da desastrosa gestão governativa dos futunguistas que os angolanos já não olham para o MPLA como antes olhavam. Assim, vou votar na FpD porque os futunguistas já deram inúmeras provas da sua incapacidade de representarem os nossos legítimos interesses. Angola está a atravessar uma nova era, que exige novos homens, nova mentalidade, nova cultura política, novos projectos, novos ideais e novos rumos. Parafraseando Agostinho Neto, precisamos de dirigentes “que estejam sempre ao lado do povo, no seu sofrimento e nos seus sacrifícios”. Por isso, não vou escolher para me representarem no «Jango» pessoas que apenas se dedicam a defender os seus interesses pessoais, sempre fizeram tábua rasa aos nossos direitos humanos e desenvolveram uma cultura de desprezo, empobrecimento e inferiorização dos angolanos.

A UNITA já representou a grande esperança de inúmeros filhos de Angola. Mas, infelizmente, durante longos e dolorosos anos esteve refém dos obscuros interesses de Jonas Savimbi. E é por causa do seu tristemente célebre belicismo que os angolanos já não olham para a UNITA como antes olhavam. Assim, vou votar na FpD porque a UNITA, com a sua famigerada e temível guerrilha, muito contribuiu para a actual atmosfera de desgovernação e estagnação do País. E, por força dos acordos de Paz, passou a ser parte integrante do mesmo sistema que sempre combateu. Por isso, não tem ambiente, nem condições, nem argumentos para confrontar, politicamente, a danosa e desastrosa gestão governativa dos futunguistas e opor-se, democraticamente, ao partido no poder e ao vergonhoso clima de corrupção e incompetência que reina entre nós. Voto na FpD porque não quero voltar a escolher um partido que no antigo parlamento, muitas vezes, alinhou com as obscuras opções políticas e governativas dos futunguistas.

2- O meu voto na FpD é um voto de lealdade. Não sou militante de nenhum partido. Por isso, não estou sujeito a disciplina de voto que me obriga a apenas votar no meu partido. Isto significa que estou livre para escolher o partido cujas propostas políticas estão de acordo com a minha postura cívica e com os valores que defendo. Assim, escolhi votar na FpD por ser o partido que está mais próximo dos ideais que defendo e da minha forma de pensar o País, de avaliar os governantes, de exercer a cidadania e de viver a angolanidade. Decidi escolher os dirigentes da FpD para ocuparem o meu lugar no «Jango» porque já deram provas sólidas de que saberão representar-me condignamente nos debates das decisões que moldam as nossas vidas e nas discussões dos problemas do País.

3- O meu voto na FpD é um voto estratégico. Escolhi votar na FpD para ajudar a reforçar a presença dos seus dirigentes no nosso «Jango». Assim, quanto maior for o número de deputados da FpD na Assembleia Nacional melhor representação teremos nessa luta desigual contra o poderoso futunguismo. Como já escrevi num dos artigos, os futunguistas não podem ocupar a maioria das cadeiras do «Jango». Porquê? Porque, à custa do longo prestígio e da poderosa influência do MPLA-Histórico, os futunguistas há muito que se preparam para obter, nas próximas eleições e a qualquer preço, uma esmagadora vitória que os permita conseguir a maioria absoluta dos 223 assentos da Assembleia Nacional. Isso seria mau para o processo democrático em curso. Porque controlando o Parlamento e mantendo o seu líder na Presidência da República, os futunguistas continuarão a ser os senhores absolutos da política nacional e continuaremos a ser forçados a submeter-nos às suas famosas atitudes de prepotência e aos seus célebres desmandos.

José Maria Huambo

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

A Nossa Dignidade Está Acima De Tudo e De Todos!

«A longa luta de libertação em Angola tinha um objectivo maior:
destruir sistemas e não pessoas. Criar uma obra e não pintar apenas uma nova fachada. Efectuar reformas profundas nas mentalidades e estruturas do país e não embrenhar-se em modificações superficiais.
Vejamos: Ainda hoje persiste em Angola a exploração do homem pelo homem, a espoliação das matérias-primas e o recrutamento de mão-de-obra barata. Ainda não foi destruído o sistema da exploração com base na lei do mais forte»
.
LUIS BANDEIRA, Jornal «A Província de Angola», 1975

Angola dificilmente avançará como todos nós desejamos, enquanto a minha geração não se esforçar por acabar de vez com o fanatismo político e com as velhas e trágicas guerrilhas partidárias. Os nossos mais velhos perderam muito tempo em discutir partidos. E por causa deste fútil debate, arruinaram o País e desgraçaram os angolanos. Estas violentas e dolorosas discussões deviam ter acabado em Abril de 2002. Por isso, custa-me muito ver que o pessoal da minha geração continua a alimentar a perigosa fantasia de desejar que todos os angolanos admirem apenas os seus ídolos políticos, militem apenas nos partidos que amam e comunguem apenas das suas formas de pensar o País e de viver a angolanidade.

Para o bem de Angola e das gerações vindouras, a minha geração tem de se consciencializar de uma vez por todas que os partidos políticos não são os assuntos mais importantes de Angola. Eles não são e nunca foram a razão principal da Independência e do surgimento da República de Angola.

Qual é, então, a razão de ser do Estado angolano? Qual é o verdadeiro sentido da Independência? Porquê que os angolanos decidiram contestar e combater o colonialismo português? Porquê é que muitos angolanos abdicaram da vida estável que usufruíam na Angola colonial e decidiram aderir à luta anti-colonial? Porque é que muitas famílias entregaram aos movimentos de libertação os seus melhores filhos? Porque é que muitos jovens brilhantes e com um futuro promissor preferiram entregar-se de corpo e alma aos ideais da independência?

Só existe uma resposta para estas perguntas: Por causa da dignidade da pessoa humana. A DIGNIDADE DO ANGOLANO é, por isso e de longe, o assunto mais importante de Angola. Ela está acima de tudo e de todos.

No dia 17 de Janeiro de 1975, 2 dias depois da assinatura do Acordo de Alvor, Agostinho Neto proferiu as seguintes palavras que resumem o grande objectivo da independência: «O que precisamos de fazer é que o homem angolano seja de facto um homem e não um sub-homem, que seja um homem que ande de cabeça levantada e não de cabeça baixa».

Portanto, a luta contra o colonialismo português e a proclamação independência aconteceram por uma única razão: A promoção e defesa da dignidade do angolano. O Estado angolano, os partidos políticos e outras instituições existem apenas para cumprir um objectivo: fazer com que o angolano deixe de ser uma pessoa explorada, oprimida, desvalorizada e condenada a sobreviver na indigência e passe a ser uma pessoa livre, valorizada, respeitada, educada, instruída e capaz de viver uma vida longa e saudável.

Acontece que os indivíduos e os grupos (raciais, étnicos, políticos, económicos, religiosos, etc.) que compõem uma sociedade são incapazes de alcançarem sozinhos a defesa da sua dignidade e a promoção dos seus direitos. Por isso, precisam de uma entidade maior, mais forte e mais organizada para proteger e zelar pelos seus interesses. É por esta razão que as sociedades modernas confiaram esta importante tarefa ao Estado. Assim, todos nós, (nobres ou humildes; matumbos ou civilizados; genuínos ou crioulos; brancos, negros ou mulatos; do Norte ou do Sul; da UNITA ou do MPLA; doutor ou analfabeto; católico ou protestante), precisamos do Estado para sairmos da miséria e termos boa vida, para vivermos neste mundo o mais tempo possível, para aumentarmos os nossos conhecimentos e para garantirmos a nossa segurança e a protecção dos nossos bens.

O ESTADO é, por isso, o segundo assunto mais importante de Angola. Porquê? Porque ele é a super estrutura responsável pela promoção da dignidade da pessoa humana. Aliás, o artigo 2º da nossa Constituição diz que o Estado angolano existe para promover a dignidade da pessoa humana e respeitar os direitos fundamentais dos angolanos.

Mas a promoção da nossa dignidade não pode ser confiada a um estado qualquer. As dolorosas lições da história provaram à humanidade que a dignidade da pessoa humana não é possível com um Estado déspota, autoritário ou totalitário. A nossa sagrada dignidade só pode ser promovida e respeitada por um Estado democrático de direito.

O respeito pela dignidade da pessoa humana impõe ao Estado democrático de direito 2 tipos de atitudes: a primeira é uma atitude passiva. Isto é, o Estado é obrigado a não tomar atitudes que violem os direitos fundamentais dos cidadãos e ofendam os valores que dignificam as pessoas. A segunda atitude é uma atitude activa. Isto é, o Estado é obrigado a canalizar, de forma eficiente, laboriosa e disciplinada, todos os recursos, todos os investimentos e todas as potencialidades do País na criação de condições de vida digna a todos os seus cidadãos. Assim, constitui tarefa fundamental do Estado angolano a criação de condições que contribuam para que os angolanos possam ter boa vida (Economia e Finanças), viver mais tempo (Saúde e Nutrição), aumentar os seus conhecimentos (Educação e Cultura), participar activamente na vida da sua comunidade (Democracia) e usufruir da segurança das suas pessoas e dos seus bens (Paz, Ordem e Justiça).

Mas o Estado não é um edifício luxuoso e monumental que podemos encontrar e admirar na baixa de Luanda. O Estado também não é um desses super-homens que podemos tocar e venerar. O Estado é uma entidade abstracta que só ganha vida e forma através de actos e comportamentos de pessoas concretas. O Estado democrático de direito é um conceito abstracto que só é realizável por pessoas que amam a Democracia e respeitam a dignidade humana. Portanto, são as pessoas concretas que fazem o Estado. As boas pessoas fazem um grande Estado e as pessoas más fazem um mau Estado.

Mas esta nobre e honrosa missão de dar a cara pelo Estado na sempre difícil tarefa de promover a dignidade da pessoa humana e respeitar os direitos fundamentais dos angolanos não pode caber a qualquer um de nós. É uma tarefa reservada aos mais aptos, mais corajosos e mais talentosos. Só que há milhões de angolanos com vontade e capacidade de representar o Estado. E no meio de tanta gente, torna-se complicado procurar, encontrar e eleger os melhores. É por isso que as sociedades modernas precisam dos partidos políticos. Por exemplo, os americanos precisaram da ajuda do Partido Democrata para descobrirem, admirarem e escolherem Barack Obama.

OS PARTIDOS POLÍTICOS constituem, por isso, o terceiro assunto mais importante de Angola. Porquê? Porque são eles que vão tornar possível a promoção da dignidade do angolano. Como? Através do controlo do Estado. É, assim, função dos Partidos descobrir, atrair, seleccionar e apresentar aos cidadãos e aos seus adeptos e militantes as pessoas mais capazes e mais bem preparadas para representarem o Estado. E só através dos Partidos é que os mais aptos e os mais capazes conseguem ter um acesso legitimado, disciplinado e organizado aos cargos públicos e aos órgãos do Estado.

Pretendemos dizer, com tudo isso, que são os dirigentes políticos que dão vida ao Estado. São eles que têm a nobre e honrosa missão de dar a cara pelo Estado na defesa e promoção da dignidade dos angolanos. É por tudo isso que só podem merecer a nossa confiança política, o nosso respeito e a nossa profunda admiração os partidos e os dirigentes que usarem o poder político e o controlo do Estado para valorizarem e dignificarem o angolano, para defenderem os interesses da comunidade que governam e para canalizarem todos os recursos e todas as potencialidades do País na criação de condições que contribuam para o bem-estar físico e espiritual dos angolanos.

Portanto, existe uma hierarquia de assuntos que devem reinar entre nós: Em 1º lugar, acima de tudo e de todos, está a DIGNIDADE DO ANGOLANO. Em 2º lugar está o ESTADO e em 3º e último lugar estão os PARTIDOS POLÍTICOS.

E a minha geração, diante das inevitáveis e sempre acesas discussões partidárias, precisa de colocar sempre as seguintes questões: Porquê é que a independência não tem sido aquilo que todos nós esperávamos? Porquê é que tivemos um dos mais longos e mortíferos conflitos armados? Porquê é que os angolanos estagnaram como seres humanos e continuam a sobreviver na indigência?

Porque houve sempre uma permanente e sistemática inversão da hierarquia dos assuntos mais importantes da nossa existência como País e como Nação. Assim, as questões da DIGNIDADE DO ANGOLANO e do ESTADO foram menosprezadas e deixaram de ter valor. E há 33 anos que as discussões sobre os PARTIDOS dominam e condicionam a nossa breve passagem por este mundo.

MPLA e UNITA mantiveram uma longa, acesa e virulenta discussão em torno da questão de saber quem é o mais importante e o mais capaz para governar Angola independente. Os do MPLA pretenderam deter o poder político e dominar a sociedade angolana por se acharem os mais «civilizados», o mais «capazes» e os mais «evoluídos» dos angolanos. Os da UNITA pretenderam deter o poder político e dominar a sociedade angolana por se acharem os mais «genuínos» dos angolanos, as verdadeiras vítimas do colonialismo português e «legítimos» representantes da maioria.

E durante 33 anos o nosso promissor Pais ficou dependente desta trágica discussão e todos nós acabamos por envolver-nos neste inglório debate. Assim, a filiação política, a crença partidária e os laços ideológicos passaram a definir o angolano e a influenciar a convivência social. Por causa disso, todos aqueles que não eram do nosso partido de eleição perdiam a sagrada condição de seres humanos, de compatriotas, conterrâneos, familiares, amigos ou vizinhos e ganhavam uma vil e desprezível identidade, passando a serem pessoas a desprezar e a abater.

A longa e virulenta discussão entre os fervorosos partidários do MPLA e da UNITA fez com que até hoje não tenhamos sido capazes de construir um verdadeiro ESTADO democrático de direito capaz de unir, conciliar, valorizar e dignificar os angolanos.

E como nunca tivemos um verdadeiro Estado, a promoção da DIGNIDADE DO ANGOLANO nunca existiu. Por isso, o angolano continua a ser uma pessoa explorada, oprimida, desvalorizada e condenada a sobreviver na indigência e está muito longe de ser uma pessoa livre, valorizada, respeitada, educada, instruída e capaz de viver uma vida longa e saudável.

Por causa de tudo isso, a minha geração não pode ceder à tentação de relaxar e cruzar os braços nesta fase que se diz de paz definitiva, de progresso e de democratização. Temos uma importantíssima missão que pode influenciar o novo rumo de Angola e beneficiar as gerações vindouras. Qual é a missão? Acabar de vez com as velhas guerrilhas partidárias e procurar recolocar a hierarquia natural dos assuntos mais importantes de Angola: A DIGNIDADE DO ANGOLANO. O ESTADO. o mpla e a unita.


José Maria Huambo
In Semanário Folha8

Democracia A Sério, Só Com Um MPLA-Renovado

«Ainda se pode salvar a situação, mas é preciso homens honestos e decididos no comando. Acabar com os apadrinhamentos, com os incapazes e os ladrões (...)
Como qualquer organismo, um movimento vive de substituição do velho pelo novo, pela renovação constante das células. O curioso é que todos os partidos de esquerda aceitam este princípio dialéctico, passam a vida a proferi-lo. No entanto, nunca o aplicam a si próprios e quanto mais velho é o indivíduo melhor dirigente será. Os velhos nunca largam o poder, só à força. Ora, é preciso sempre sangue novo, uma geração que se substitua à precedente, um revigorante vindo dos quadros. Só assim se pode recuperar o tempo perdido
.
PEPETELA, A Geração da Utopia

Os que andam saturados e cansados do longo e doloroso reinado do futunguismo liderado por José Eduardo dos Santos e que intervirão activamente no processo eleitoral que culminará com a votação do dia 5 de Setembro precisam ter em conta o seguinte:

1- Quem ganhar as eleições de 5 de Setembro não vai governar o País. Porque, apesar da ratoeira constitucional promovida pelos futunguistas, o nosso sistema de governo não é semi-presidencial como o sistema português. Nesse sistema, forma governo o partido que conseguir a maioria dos assentos do parlamento.

Por tradição e por cultura políticas, o nosso sistema é presidencialista. Assim, em Angola, é o Chefe do Estado quem conduz a política geral do País. É ele quem preside o Conselho de Ministros, escolhe o Primeiro-Ministro e exonera os Ministros, os Vice-Ministros e os Secretários de Estado. Mas o pormenor que torna claramente o nosso sistema presidencialista é este: No sistema semi-presidencial, a continuidade do Governo não depende da eleição do novo Chefe de Estado. Em Angola, a eleição do novo Presidente da República provoca a demissão do Governo. Portanto e usando, com a vossa permissão, uma bem conhecida gíria, quem «mija» e manda no governo não é o Primeiro-Ministro. É o Presidente da República.

Quer isto dizer que, se os principais partidos da oposição (UNITA, FNLA, FpD, etc.) quiserem governar o País terão de apostar em candidatos que consigam derrotar Eduardo dos Santos nas eleições presidenciais.

2. Em Angola, Democracia a sério, só com um MPLA-Renovado. Tal como não foi possível existir uma UNITA-Democrática durante o longo e doloroso reinado da UNITA-Belicista, assim também não é possível surgir um MPLA-Democrático enquanto o MPLA-Futunguista continuar a controlar e a dominar o MPLA-Histórico. Por isso, é natural que o actual processo democrático esteja muito longe do processo almejado por todos aqueles que sonham e lutam para que Angola seja um verdadeiro Estado de direito democrático, alicerçado na soberania popular, na dignidade da pessoa humana e no pluralismo.

Assim, enquanto os futunguistas continuarem com o seu longo e doloroso reinado, a nossa Democracia será sempre insonsa, morna, confusa e titubeante. Porque, tal como o savimbismo, o futunguismo é um sistema fechado, autocrático, autoritário e ferreamente construído em torno da divinização e bajulação do seu líder infalível, incontestado, omnipotente, omnisciente e omnipresente. Tal como o savimbismo, o futunguismo tem sido absolutamente implacável com os opositores internos e com aqueles cujo prestígio, inteligência, influência ou ideias constituem uma ameaça à autoridade e à liderança do chefe.

Graças a Deus, os futunguistas deixaram de eliminar fisicamente os militantes do MPLA-Histórico que ousem contestar e desafiar a sábia e clarividente liderança de José Eduardo dos Santos. Aliás, foi nesse sentido o recado que recebeu o General Garcia Miala, ele que já foi considerado o único homem que podia acordar o Presidente a qualquer hora da noite. Segundo a mais célebre vitima dos futunguistas, a pessoa indicada para lhe transmitir a controversa demissão, disse-lhe que não se preocupasse com a sua vida porque já não estavam nos tempos das eliminações físicas. Mas, no futunguismo, os atrevidos que ousem brilhar mais do que o chefe sofrem uma morte política capaz de ensombrar e congelar as suas ambições.

Assim, e por causa da rigidez do sistema e das traumatizantes perseguições do passado, não há, no seio do MPLA-Histórico, algum mortal com motivação e com meios capazes de beliscar e desafiar a longa liderança de Eduardo dos Santos. E o MPLA-Renovado tarda a aparecer porque os militantes com inteligência, prestígio e capacidade suficientes para promoverem a abertura, a democratização e a tão esperada reconciliação interna do histórico Partido estão todos domados, silenciados, corrompidos e resignados. E enquanto não emergir na cena política de Angola um MPLA-Renovado capaz de promover a democratização do MPLA-Histórico e dar outro rumo ao processo de reconciliação nacional e de democratização do nosso promissor País, teremos de nos contentar com essa democracia dos futunguistas.

3- Os futunguistas não mudam mais e vão continuar a ser senhores absolutos da vida política e económica de Angola. Por isso, temos de nos livrar do velho hábito de esperarmos, passiva e resignadamente, pela ajuda e intervenção da comunidade internacional na resolução dos nossos problemas. Estamos sozinhos neste difícil combate ao todo poderoso futunguismo. É que, os futunguistas sentem-se no auge da sua força e do seu poder. A dependência do petróleo deu-lhes uma ascendência sobre a política externa dos Estados Unidos, da China, da França, da Inglaterra, da Rússia, do Japão, de Portugal e doutros antigos defensores acérrimos da Democracia e dos Direitos Humanos. Por isso, não há no mundo de hoje instituição divina ou humana capaz de travar os seus instintos cleptocratas, de questionar a governância deles, de censurar a ostentação descarada das suas riquezas e de impugnar os seus longos desmandos.

4- Mais do que eleições legislativas, as eleições de 5 de Setembro serão LEGITIMATIVAS para todos aqueles que se opõem ao longo e doloroso reinado dos futunguistas. Porque durante os 16 anos de interregno eleitoral, os futunguistas trataram a oposição política, as lideranças eclesiásticas e sindicais, a imprensa privada, as organizações não-governamentais e a sociedade civil como entidades ilegítimas. Lidaram connosco de forma arrogante e prepotente, como se não tivéssemos nem maturidade nem autoridade para questionarmos a sua longa e desastrosa governância.

Isto vai acabar. Porque, a partir de 5 de Setembro de 2008 estaremos todos legitimados a enfrentar os futunguistas, a exigir o cumprimento das suas promessas, a questionar as suas decisões políticas e a censurar os seus habituais desmandos.

5- Os futunguistas não podem obter a maioria absoluta dos assentos parlamentares. À custa do longo prestígio e da poderosa influência do MPLA-Histórico, os futunguistas há muito que se preparam para obter, nas próximas eleições e a qualquer preço, uma esmagadora vitória que os permita conseguirem a maioria absoluta dos 223 assentos da Assembleia Nacional. Isso seria mau para o processo democrático em curso. Porque controlando o Parlamento e mantendo o seu líder na Presidência da República, os futunguistas continuarão a ser os senhores absolutos da política nacional e continuaremos a ser forçados a submeter-nos aos seus caprichos e desmandos.

Urge, por isso, que os descontentes do MPLA-Histórico e a oposição política empenhem-se na difícil tarefa de ajudarem os eleitores a saberem identificar os futunguistas que se vão camuflar com os poderosos símbolos do MPLA-Histórico.

Sim, eles estão apostados em usar o MPLA para manterem os seus privilégios e os seus desmandos. Só para dar um exemplo: o artigo 19º da Lei dos Partidos Políticos diz que os símbolos de um partido não podem confundir-se ou ter relação gráfica com símbolos e emblemas nacionais. Sabem porque é que os futunguistas boicotaram e sabotaram o processo da nova bandeira da República de Angola?


Bandeira de Angola Bandeira do MPLA


José Maria Huambo
In Semanário Folha8

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Estamos Juntos, nesta Luta pela Dignificação do angolano!



Caros Compatriotas e amigos de Angola!



Fraternais saudações.




Antes de tudo, permitam-me, em nome da equipa responsável por este blogue, expressar a nossa profunda gratidão por terem ajudado a tornar o «angolainterrogada» uma referência na blogosfera e um importante espaço de encontro, reencontro e partilha de ideias para todos nós que amamos Angola e carregamos em nossos corações as dores da devastação e da estagnação da nossa amada Pátria.

Como sabem, o grau de audiência e visibilidade de um blogue é avaliado pelo número de «page views» e de «visits». O blogue «Angolainterrogada» teve, até hoje, 18.553 «page views» e 11.789 «visits». Nada mau!

Graças ao vosso contributo, o blogue começa a sair do anonimato e a afirmar-se na blogosfera. E isto dá-nos alento, força, coragem e motivação para levarmos avante esta difícil, mas importantíssima, missão de repensarmos a independência, questionarmos a paz e pormos em causa tudo aquilo que nos foi ensinado durante os conturbados anos de guerra e que tem condicionado a conciliação dos angolanos, a nossa forma de avaliar os governantes, de exercer a cidadania, de pensar o País e de viver a angolanidade.

A nossa sentida solidadriedade e profunda compreensão para com os compatriotas e amigos de Angola que, por vários motivos (pessoais, técnicos, políticos, etc.) não puderam expressar as suas opiniões.
O nosso profundo obrigado para os compatriotas e amigos de Angola que ousaram partilhar connosco as suas opiniões. Valeu!
Com Angola no coração,
José Maria Huambo



MAFEGOS, Porto:
«Sempre que chove assim eu lembro-me dos gafanhotos. Não aqui, não em Luanda, claro! Aqui nunca vi nada parecido! O meu pai, o velho Faustino Benedito, herdou, da avó materna, uma fazenda na Gabela. Íamos lá passar férias. Para mim, era como visitar o paraíso.
JOSÉ EDUARDO AGUALUSA, O Vendedor de Passados
Tendo nascido em Angola e vivido 12 anos nesse paraíso é claro que, mais do que ninguém, eu sei qual o valor de viver numa terra abençoada por Deus. E por muito que eu viaje, nunca comparo a minha Gabela a qualquer outra terra! Nem Nova Iorque, nem Paris ou Rio de Janeiro. Porque a Gabela é incomparável!
É claro que eu estou a referir-me a uma Angola que, infelizmente, era desigual consoante a cor da pele. Uma Angola colonialista, onde os brancos tinham a primazia de pôr e dispor. Portanto, tudo o que eu posso dizer da minha terra é sempre pelo lado dos privilegiados, daqueles que nada lhes faltou e que viveram bem, provavelmente à custa e em claro prejuízo dos verdadeiros angolanos.
Nasci na Gabela, na pensão Oliveira, em 6 de Julho de 1963. É por estas e por outras, que eu tenho o maior orgulho de dizer: «eu nasci em Angola». Mas não é pela simples condição de ser filho de colonos, que me sinto menos angolano. Antes pelo contrário, sinto um orgulho enorme pelo facto dos meus pais terem deixando Portugal e terem zarpado para Angola, procurando melhorar a vida, quando seria mais fácil ir para França, Brasil ou EUA. Os meus pais escolheram ir para o paraíso e ajudaram, com a sua modesta participação, a engrandecer aquela terra.
E é esse amor por essa terra, que me faz percorrer os diversos blogues angolanos com que me vou deparando nesta cada vez mais imparável blogosfera e pelos quais me vou inteirando sobre o que se vai passando lá na "banda", pois o coração parece que ficou lá e tenho que urgentemente voltar para me encontrar com ele para ver se não morro de saudade.
Tive e tenho o privilégio de conhecer o José Maria Huambo, um bom homem e, tal como eu, um apaixonado pela sua terra, e daí ter aceite escrever este texto, não só pela amizade mas também pelos pontos de vistas que entre nós são na maioria das vezes convergentes.
Gosto de passar por aqui e ver o que se vai escrevendo sobre o que se deseja e espera do futuro da nossa terra. Porque, que por muito mal que a continuem a tratar, a nossa esperança é infinita. E nos duros momentos de desânimo não há nada que uma boa moamba, um bom merengue ou até um kuduro não nos faça, como uma Fénix, renascer para o sonho de uma Angola como diria uma canção em 75 "Esta Angola é grande e caberíamos todos nós, mas cada vez que matam, aumentam o rancor desta pobre gente que tanto escravizaram".Era uma canção que visava o colonialismo, mas infelizmente continua muito actual. Mas tenho esperança que Angola ainda vai ser a terra, não o paraíso que eu vivi, mas aquela terra onde um dia poderemos viver, trabalhar, amar e, por fim, morrer, por exemplo, no meio daquele cheiro do café, o cheiro que me persegue desde que nasci.
Uma das mágoas que tenho é que eu posso estar a falar de uma Angola que hoje já não existe e que muitos angolanos pensem que só existe no meu imaginário. E é triste o facto de muitos angolanos nunca terem tido a hipótese de viver e desfrutar daquele país, como nós o fizemos. Mas como a esperança é a última a morrer…
Está a chegar Setembro que pode ser uma grande surpresa e vamos ver como se comportam os dirigentes angolanos perante a derrota. E não me estou só a referir aos que estão no governo. Mas também espero a oposição se mostre digna perante a derrota. Isto se as eleições forem na verdade livres e justas, como espero»

CARLOS, Brasil:
«
Olá! Vou em primeiro lugar fazer a minha apresentação: Sou filho de portugueses nascido no Huambo, tendo residido na Huila e Luanda. Actualmente resido no Brasil. Acompanho o vosso blogue há algum tempo e o acho fantástico! Desde o início fiquei impressionado com a cultura, raciocínio e colocação dos problemas de Angola pelo Sr. José Huambo! Continuai assim».

PAULO, Porto:
«
É saudável e extremamente útil participar com a nossa existência a tudo quanto seja para alinhavar um futuro digno de homens inquietos com uma realidade que infelizmente não tem sido normal. Como tal, toda a consciência crítica com o fito de contribuir transversalmente para as melhoras do nosso país (indissociável dos homens..) deve ser abraçada, pois somos aquela geração que foi submetida e reduzida ao "carneirismo" de uma só direcção porque a cobiça e toda uma ordem de subversão do ser humano digno e aspirante da felicidade plena anda involuntariamente a deriva...
O cruzamento de ideias e atitudes proactivas sustentados pelos valores que alicerçam os seres é uma espécie de água potável para todos viverem com a garantia da própria vida futura...
Este blogue (e outros com o mesmo propósito) é mais um recurso para o realinhamento do rico mosaico angolano...
Estarei sempre atento e darei o mais vivo contributo para que os resultados sejam práticos...
Agradeço e durmo tranquilo porque sei que muita gente está comigo na busca do despertar dos angolanos....
Saudações minhas»

REGINALDO, Luanda:
«
Viva o bloguismo e os seus seguidores!
Viva a liberdade de expressão!
Ai vai o meu: http://www.morrodamaianga.blogspot.com/
Abraços»

ANÓNIMO:
«"Encontrei" hoje este seu/vosso/nosso blogue. Parabéns! Uma lufada de ar fresco em Angola, que não é a minha terra, mas que "infelizmente" descobri nos idos anos 80 ( a tal água do Bengo), portanto sem passado só com o futuro que tarda a chegar, mas que jovens e menos jovens como vocês (e conheço muitos) com certeza lá a farão chegar. Bem hajam pela coragem (desculpem, CORAGEM)».

FERNANDO, Luanda:
«
Parabéns pelo blogue! O angolainterrogada tem ideias que ajudam a contribuir para o engrandecimento de um País que todos nos amamos».