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segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Democracia A Sério, Só Com Um MPLA-Renovado

«Ainda se pode salvar a situação, mas é preciso homens honestos e decididos no comando. Acabar com os apadrinhamentos, com os incapazes e os ladrões (...)
Como qualquer organismo, um movimento vive de substituição do velho pelo novo, pela renovação constante das células. O curioso é que todos os partidos de esquerda aceitam este princípio dialéctico, passam a vida a proferi-lo. No entanto, nunca o aplicam a si próprios e quanto mais velho é o indivíduo melhor dirigente será. Os velhos nunca largam o poder, só à força. Ora, é preciso sempre sangue novo, uma geração que se substitua à precedente, um revigorante vindo dos quadros. Só assim se pode recuperar o tempo perdido
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PEPETELA, A Geração da Utopia

Os que andam saturados e cansados do longo e doloroso reinado do futunguismo liderado por José Eduardo dos Santos e que intervirão activamente no processo eleitoral que culminará com a votação do dia 5 de Setembro precisam ter em conta o seguinte:

1- Quem ganhar as eleições de 5 de Setembro não vai governar o País. Porque, apesar da ratoeira constitucional promovida pelos futunguistas, o nosso sistema de governo não é semi-presidencial como o sistema português. Nesse sistema, forma governo o partido que conseguir a maioria dos assentos do parlamento.

Por tradição e por cultura políticas, o nosso sistema é presidencialista. Assim, em Angola, é o Chefe do Estado quem conduz a política geral do País. É ele quem preside o Conselho de Ministros, escolhe o Primeiro-Ministro e exonera os Ministros, os Vice-Ministros e os Secretários de Estado. Mas o pormenor que torna claramente o nosso sistema presidencialista é este: No sistema semi-presidencial, a continuidade do Governo não depende da eleição do novo Chefe de Estado. Em Angola, a eleição do novo Presidente da República provoca a demissão do Governo. Portanto e usando, com a vossa permissão, uma bem conhecida gíria, quem «mija» e manda no governo não é o Primeiro-Ministro. É o Presidente da República.

Quer isto dizer que, se os principais partidos da oposição (UNITA, FNLA, FpD, etc.) quiserem governar o País terão de apostar em candidatos que consigam derrotar Eduardo dos Santos nas eleições presidenciais.

2. Em Angola, Democracia a sério, só com um MPLA-Renovado. Tal como não foi possível existir uma UNITA-Democrática durante o longo e doloroso reinado da UNITA-Belicista, assim também não é possível surgir um MPLA-Democrático enquanto o MPLA-Futunguista continuar a controlar e a dominar o MPLA-Histórico. Por isso, é natural que o actual processo democrático esteja muito longe do processo almejado por todos aqueles que sonham e lutam para que Angola seja um verdadeiro Estado de direito democrático, alicerçado na soberania popular, na dignidade da pessoa humana e no pluralismo.

Assim, enquanto os futunguistas continuarem com o seu longo e doloroso reinado, a nossa Democracia será sempre insonsa, morna, confusa e titubeante. Porque, tal como o savimbismo, o futunguismo é um sistema fechado, autocrático, autoritário e ferreamente construído em torno da divinização e bajulação do seu líder infalível, incontestado, omnipotente, omnisciente e omnipresente. Tal como o savimbismo, o futunguismo tem sido absolutamente implacável com os opositores internos e com aqueles cujo prestígio, inteligência, influência ou ideias constituem uma ameaça à autoridade e à liderança do chefe.

Graças a Deus, os futunguistas deixaram de eliminar fisicamente os militantes do MPLA-Histórico que ousem contestar e desafiar a sábia e clarividente liderança de José Eduardo dos Santos. Aliás, foi nesse sentido o recado que recebeu o General Garcia Miala, ele que já foi considerado o único homem que podia acordar o Presidente a qualquer hora da noite. Segundo a mais célebre vitima dos futunguistas, a pessoa indicada para lhe transmitir a controversa demissão, disse-lhe que não se preocupasse com a sua vida porque já não estavam nos tempos das eliminações físicas. Mas, no futunguismo, os atrevidos que ousem brilhar mais do que o chefe sofrem uma morte política capaz de ensombrar e congelar as suas ambições.

Assim, e por causa da rigidez do sistema e das traumatizantes perseguições do passado, não há, no seio do MPLA-Histórico, algum mortal com motivação e com meios capazes de beliscar e desafiar a longa liderança de Eduardo dos Santos. E o MPLA-Renovado tarda a aparecer porque os militantes com inteligência, prestígio e capacidade suficientes para promoverem a abertura, a democratização e a tão esperada reconciliação interna do histórico Partido estão todos domados, silenciados, corrompidos e resignados. E enquanto não emergir na cena política de Angola um MPLA-Renovado capaz de promover a democratização do MPLA-Histórico e dar outro rumo ao processo de reconciliação nacional e de democratização do nosso promissor País, teremos de nos contentar com essa democracia dos futunguistas.

3- Os futunguistas não mudam mais e vão continuar a ser senhores absolutos da vida política e económica de Angola. Por isso, temos de nos livrar do velho hábito de esperarmos, passiva e resignadamente, pela ajuda e intervenção da comunidade internacional na resolução dos nossos problemas. Estamos sozinhos neste difícil combate ao todo poderoso futunguismo. É que, os futunguistas sentem-se no auge da sua força e do seu poder. A dependência do petróleo deu-lhes uma ascendência sobre a política externa dos Estados Unidos, da China, da França, da Inglaterra, da Rússia, do Japão, de Portugal e doutros antigos defensores acérrimos da Democracia e dos Direitos Humanos. Por isso, não há no mundo de hoje instituição divina ou humana capaz de travar os seus instintos cleptocratas, de questionar a governância deles, de censurar a ostentação descarada das suas riquezas e de impugnar os seus longos desmandos.

4- Mais do que eleições legislativas, as eleições de 5 de Setembro serão LEGITIMATIVAS para todos aqueles que se opõem ao longo e doloroso reinado dos futunguistas. Porque durante os 16 anos de interregno eleitoral, os futunguistas trataram a oposição política, as lideranças eclesiásticas e sindicais, a imprensa privada, as organizações não-governamentais e a sociedade civil como entidades ilegítimas. Lidaram connosco de forma arrogante e prepotente, como se não tivéssemos nem maturidade nem autoridade para questionarmos a sua longa e desastrosa governância.

Isto vai acabar. Porque, a partir de 5 de Setembro de 2008 estaremos todos legitimados a enfrentar os futunguistas, a exigir o cumprimento das suas promessas, a questionar as suas decisões políticas e a censurar os seus habituais desmandos.

5- Os futunguistas não podem obter a maioria absoluta dos assentos parlamentares. À custa do longo prestígio e da poderosa influência do MPLA-Histórico, os futunguistas há muito que se preparam para obter, nas próximas eleições e a qualquer preço, uma esmagadora vitória que os permita conseguirem a maioria absoluta dos 223 assentos da Assembleia Nacional. Isso seria mau para o processo democrático em curso. Porque controlando o Parlamento e mantendo o seu líder na Presidência da República, os futunguistas continuarão a ser os senhores absolutos da política nacional e continuaremos a ser forçados a submeter-nos aos seus caprichos e desmandos.

Urge, por isso, que os descontentes do MPLA-Histórico e a oposição política empenhem-se na difícil tarefa de ajudarem os eleitores a saberem identificar os futunguistas que se vão camuflar com os poderosos símbolos do MPLA-Histórico.

Sim, eles estão apostados em usar o MPLA para manterem os seus privilégios e os seus desmandos. Só para dar um exemplo: o artigo 19º da Lei dos Partidos Políticos diz que os símbolos de um partido não podem confundir-se ou ter relação gráfica com símbolos e emblemas nacionais. Sabem porque é que os futunguistas boicotaram e sabotaram o processo da nova bandeira da República de Angola?


Bandeira de Angola Bandeira do MPLA


José Maria Huambo
In Semanário Folha8

1 comentário:

Anónimo disse...

O MPLA COMO MARCA


O MPLA como Marca representa um poder permanente em função de mais do que a sua história e multiplicidade de histórias e perpetuações das suas tradições.
Um dos factores qualitativos de recriação da sua força consiste na lealdade da corrente regeneradora dos seus aliados.
Os seus atributos, qualidade e expectativas criadas e uma amálgama de resultados e sua funcionalidade reforçam uma narrativa que impulsiona a sua existência.
Não há dúvida de que as crenças sagradas, criações, metas e seu prestígio, sua visão e missão, capacidade de inovação reforçam o seu posicionamento.
A sua suposta notoriedade e fidelização em constante construção criando boas ligações emocionais melhorarão consideravelmente essa marca.
Sendo assim será que a marca MPLA é um sistema propulsor e fonte de criação de valor?
Será que a notoriedade do MPLA continua a ser evocada de forma espontânea?
Para que a marca MPLA se perpetue será necessário que as atitudes das pessoas correspondam a avaliações globais favoráveis.
Não há dúvida que a força da marca MPLA quase se confundirá a um culto descentralizado e de interacções e laços fortes e experiências partilhadas que criam várias identidades verbais e simbólicas.
Para falar da antiguidade da Marca MPLA teremos que falar forçosamente do seu núcleo fundador de Conacry dos anos 60.
A marca MPLA se perpetua pelo seu prestígio devido as associações intangíveis, pelo seu simbolismo popularizado incontornável e grandes compromissos com o passado.
O MPLA como marca, alem de possuir narrativas de sobrevivência, inclui testemunhos que dão a história, significados mais profundos e grande carácter de emocionalidade.
A história do nacionalismo e luta de libertação pelos actores de renome a partir da fundação do MPLA em Conacry pelos seis fundadores bem personalizados, como Viriato da Cruz, Mário Pinto de Andrade, Hugo José Azancot de Menezes, Lúcio Lara, Eduardo Macedo dos Santos e Matias Migueis perpetuarão essa marca de forma reflectida.
Poderemos então afirmar que os fundadores de Conacry foram os agentes prioritários e fundamentais da verdadeira autenticidade da marca MPLA.
A dinâmica da história e a construção de identidades pressupõem estados liminares, pelo afastamento constante de identidades anteriores.
Desenvolver a cultura da marca MPLA exigirá um constante planeamento e estratégias que permitirão reunir e sentir esta marca global.
Para terminar apelaria que nas verdadeiras reflexões que a lenda da marca não obscurecesse a lenda dos fundadores verdadeiros artífices.
Escrito Por:
AYRES GUERRA AZANCOT DE MENEZES